Prevendo uma decisão iminente do Ministério Público sobre o caso dos passaportes, o governo Petro remove Alfredo Saade do cargo de chefe do gabinete e o envia para a embaixada.

O barulho que gerou Alfredo Saade ao governo do presidente Gustavo Petro por seus vários falsos começos, como seus constantes gritos de "reeleição", acabou afastando-o da Casa de Nariño, onde esteve apenas dois meses como Chefe de Gabinete e ontem soube-se que será o novo embaixador da Colômbia no Brasil.
Além do barulho, o EL TIEMPO apurou que uma decisão iminente da Procuradoria-Geral da República no caso dos passaportes levaria o presidente Petro a sacrificar um de seus apoiadores mais controversos. Saade enfrenta um processo disciplinar na Procuradoria-Geral da República pelo caso dos passaportes. O presidente decidiu destituí-lo ao saber que o Ministério Público havia encontrado fundamentos para sua destituição.
Em 9 de julho, a Procuradoria-Geral da República anunciou o início de uma investigação formal contra Saade, bem como os ex-ministros das Relações Exteriores Laura Sarabia e Luis Gilberto Murillo, por supostas irregularidades no processo de emissão de passaportes.
"No caso de Saade, ele teria excedido sua autoridade ao emitir ordens a funcionários do Ministério das Relações Exteriores para agilizar o agendamento de entrevistas para obtenção de passaportes", informou o Ministério Público. Diante de uma suspensão iminente, o presidente teria preferido transferi-lo para outro cargo para impedir que a medida entrasse em vigor.
Claro, seria uma medida temporária, pois uma sanção que o suspendesse do exercício de cargos públicos também afetaria sua permanência na embaixada no Brasil. Dessa forma, Petro apenas evitaria uma situação semelhante à que vivenciou com Álvaro Leyva, na qual o manteve no cargo enquanto estava suspenso e deixou Luis Gilberto Murillo no cargo.
As pistas para a saída de Saade Na quinta-feira, foi notável que, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, ele não tenha sido visto acompanhando o presidente Gustavo Petro em sua agenda pública, onde as Forças Armadas foram homenageadas na Ponte Boyacá — após a cerimônia ter sido adiada devido à greve dos mineiros. Não havia sinal do chefe de gabinete durante as duas cerimônias das quais o presidente participou.
E nesta sexta-feira , ele não esteve presente na reunião com os senadores norte-americanos Bernie Moreno e Rubén Gallego, ambos de origem colombiana, que compareceram ao funeral de Miguel Uribe Turbay. Sua iminente saída já ecoava nos corredores da Casa de Nariño, mas isso foi confirmado quando seu currículo foi publicado no site presidencial às 15h53, formalizando sua nomeação.

Alfredo Saade e Rosa Villavicencio no Conselho de Ministros. Foto de : Dapre
Saade, que, em resposta a rumores sobre sua possível saída, disse que estava ausente porque estava gripado, falou minutos depois em um tuíte sobre sua nomeação como embaixador, cargo para o qual não tem experiência e para o qual o Conselho de Estado rejeitou mais de 45 nomeações no serviço diplomático.
"O Presidente Gustavo Petro me convidou para ser seu embaixador no Brasil, com instruções específicas para continuar construindo relações bem-sucedidas com a América do Sul. Foi um prazer estar ao seu lado nestes últimos dois meses, cumprindo as tarefas que me foram atribuídas, as quais realizei com total sucesso. Sei que também concluirei com sucesso este novo desafio. Isto é apenas o começo", tuitou o Ministro da Casa Civil, acusado de isolar o Presidente Petro e também de causar irritação dentro do próprio governo.
O incidente mais recente, e um dos mais criticados, foram suas declarações que tentavam minimizar o risco político que os candidatos enfrentam nas eleições de 2026. A polêmica surgiu após suas declarações relacionadas ao caso Miguel Uribe.
"Peço à mídia que mantenha a calma. O país precisa deixar claro que não pode continuar a insinuar que o presidente Gustavo Petro é culpado deste assassinato. Ele sempre buscou a paz para a nação, apesar da perseguição de seus adversários. Os colombianos precisam saber que ele tem sido um dos mais perseguidos nos últimos tempos, e que ele só buscou a paz", disse Saade em seu discurso.

O Presidente Gustavo Petro com Alfredo Saade, Chefe da Casa Civil. Foto: Presidência
O momento em que ele foi mais questionado foi quando questionado sobre a segurança dos candidatos e o risco político que eles correm após o crime contra o senador, ocorrido há dois meses, enquanto ele realizava eventos de campanha para as eleições de 2026.
"A atividade política sempre traz riscos. Não acho que o medo dos candidatos tenha aumentado", afirmou Saade, reiterando que "toda atividade traz riscos; andar de bicicleta traz riscos de cair, tropeçar ou ser atropelado por um veículo".
Saade continuou dizendo que esse risco era maior em "um país tão convulsionado, não apenas agora, mas nos últimos 20 anos de morte, guerra, assassinato e expulsão do adversário por todos os meios necessários".
Essa última postura foi amplamente criticada por vários setores, que interpretaram as declarações do chefe de gabinete como uma tentativa de comparar a violência política no país a um acidente de bicicleta.

Alfredo Saade na entrada da Casa de Nariño. Foto: Presidência
Ele também causou comoção no Congresso e na Suprema Corte. Os presidentes do Judiciário deixaram a assembleia de 20 de julho bastante contrariados quando ele gritou repetidamente "reeleição" e convocou a facção do Pacto Histórico a segui-lo.
Juan Sebastián Lombo Delgado
eltiempo