Os motivos por trás do mais recente conflito dentro do Centro Democrático, que o deixou sem uma empresa de pesquisas para escolher o candidato presidencial do Uribismo.
Até o momento, o partido Centro Democrático não sabe como escolherá seu candidato à presidência ou candidatos para as próximas primárias. Enquanto o ex-presidente Álvaro Uribe se esforça para formar uma coalizão de partidos tradicionais para desafiar o movimento de Petro e sua Frente Ampla, tensões internas em seu partido levaram ao colapso de processos previamente acordados.
Nesta segunda-feira, foi confirmado que a AtlasIntel, a empresa internacional de pesquisas eleitorais que já havia sido escolhida para selecionar o candidato, desistiu em meio à controvérsia sobre as dúvidas levantadas pelos apoiadores de Miguel Uribe Londoño contra a empresa, o que levou a uma grande disputa interna.

Pré-candidatos presidenciais pelo partido Centro Democrático, María Fernanda Cabal e Miguel Uribe Londoño. Foto: Arquivo
"Após um pedido de informações de um de nossos principais parceiros de mídia na América Latina, fomos informados de que a realização de uma pesquisa para o Centro Democrático poderia gerar um risco reputacional em relação à nossa imparcialidade, particularmente no que diz respeito às pesquisas públicas que a AtlasIntel publicará na próxima eleição presidencial", afirmou a empresa brasileira de pesquisas eleitorais.
Eles acrescentaram: “Após consultar este parceiro de mídia, decidi não prosseguir com novas discussões sobre uma possível pesquisa encomendada pelo Centro Democrata à AtlasIntel”. Assim, o Centro Democrata ficou sem sua principal empresa de pesquisas para realizar o processo de seleção de seu(s) candidato(s).
Essa é uma questão importante, pois eles esperavam realizar uma série de pesquisas no final de novembro para determinar qual dos cinco candidatos era o mais cotado para ser o indicado do Centro Democrata. Ao escolher a AtlasIntel, eles simplesmente esperavam encontrar uma segunda empresa de pesquisas para verificar os dados produzidos pela empresa brasileira.

Miguel Uribe Londoño no lançamento da sua pré-candidatura presidencial. Foto: AFP
No entanto, agora enfrentam o pior cenário possível, já que a principal empresa de pesquisas desistiu, obrigando-os a encontrar uma nova empresa para assumir a tarefa. Isso é particularmente desafiador, visto que qualquer empresa de pesquisas provavelmente pensará duas vezes antes de participar de um processo já repleto de controvérsias. O tempo está se esgotando para o partido de direita, que esperava concluir a seleção antes de 8 de dezembro, prazo final para o registro de candidatos ao Congresso. Eles planejavam determinar quais dos não selecionados na pesquisa seriam incluídos nas listas do Congresso.
Por outro lado, além das dificuldades na realização das eleições, há também novas tensões internas causadas pela posição de Miguel Uribe Londoño. Enquanto ele expressou suas dúvidas à AtlasIntel e fez duras críticas ao diretor do partido, Gabriel Vallejo, os outros quatro pré-candidatos manifestaram seu apoio. "Ele vai causar muitos danos ao partido", disse um pré-candidato consultado por este jornal sobre a mais recente polêmica.
A origem das tensões A controvérsia começou há uma semana, embora só tenha vindo à tona na sexta-feira. Segundo diversas fontes dentro do partido Centro Democrático, Miguel Uribe Londoño reuniu-se com a direção do partido para informá-los de seu veto à empresa de pesquisas AtlasIntel e de sua discordância com a metodologia inicialmente escolhida. Em sua visão, três empresas de pesquisa nacionais deveriam ser selecionadas para realizar as pesquisas.
Ele reiterou então suas reservas, desta vez em uma carta que posteriormente foi tornada pública. Gabriel Vallejo respondeu, e sua resposta também foi divulgada pela mídia.
Nessa segunda comunicação, notou-se um tom áspero por parte do diretor do Centro Democrático, devido ao incômodo com os comentários feitos pelo pré-candidato: "sua linguagem e seus termos não condizem com o tratamento que o partido e eu temos tido com você", e por conta de versões que chegaram ao partido de que Miguel Uribe Londoño, supostamente próximo a ele, teria tentado contratar a AtlasIntel, o que implicaria um conflito de interesses, e, diante da recusa, decidiram vetar a contratação.
Vallejo questionou especificamente a campanha de Uribe Londoño sobre essas alegações. "Após 17 de outubro de 2025, algum dos seus assessores de campanha contatou a AtlasIntel e propôs, em algum momento da conversa, contratá-la ou solicitar seus serviços para realizar um estudo ou pesquisa para mensurar as intenções de voto na Colômbia para as eleições presidenciais de 2026?"
A maioria dos pré-candidatos do Centro Democrático manifestou apoio a Vallejo e reiterou as dúvidas em torno das supostas irregularidades envolvendo a empresa brasileira de pesquisas de opinião. "Eu sempre lhe disse que você tem as qualidades ideais e as pessoas certas para liderar e levar adiante este processo", afirmou o senador e pré-candidato Andrés Guerra, demonstrando seu apoio a Vallejo.
Ele acrescentou: "Sinceramente, não consigo entender como alguém que acredita poder fazer qualquer coisa com dinheiro pode agora transformar o processo em um cenário antiético e, além disso, alegar desconhecimento das ações e da conduta de seus assessores qualificados, quando uma de suas táticas é controlar tudo, como evidenciado pelo seu contato com a empresa internacional de pesquisas de opinião há um mês. Qual era a intenção deles? O que eles estavam procurando? Qual era a estratégia deles?"
Em seguida, Guerra concluiu, fazendo clara referência às acusações contra a campanha de Uribe Londoño: "É preocupante que, não tendo conseguido conquistá-la, passem a vetá-la, mas o mais grave é que estão destruindo nosso processo internamente, argumentando com habilidade e astúcia que atacar é a melhor defesa."
María Fernanda Cabal e outros pré-candidatos também manifestaram apoio a Vallejo e ao mecanismo que havia sido escolhido há vários meses. “Gostaria de retomar com o Atlas, ou, se houver outra opção internacional, não podemos permitir que o poder de veto que está tentando sabotar esta etapa, que já vem sendo planejada há um ano, seja utilizado”, disse a senadora, que chegou a sugerir que outros interesses estariam em jogo nesta nova controvérsia: “Sinto que há forças externas tentando implodir o partido”.
Algumas fontes, que pediram anonimato, afirmaram que a manobra de Miguel Uribe Londoño visava beneficiar outros candidatos fora do partido, especificamente Juan Carlos Pinzón. Lembraram que Pinzón foi inicialmente proposto pela família do assassinado Miguel Uribe Turbay para substituí-lo nas eleições, mas sua candidatura foi rejeitada devido à sua falta de envolvimento com o partido.
Diante do novo conflito dentro do grupo de Uribe, Miguel Uribe Londoño se pronunciou em diversas ocasiões. Inicialmente, ele rejeitou as insinuações de que teria contatado a empresa brasileira de pesquisas de opinião de forma irregular.
“Ainda surpreso e triste, passo a responder a alguns dos pontos levantados ontem à noite por você e por alguns dos pré-candidatos do nosso partido na reunião que tivemos sobre uma conversa que meus assessores tiveram com a empresa de pesquisas Atlas Intel e pela qual fui rotulado, entre outras coisas, como uma pessoa antiética”, disse ele na carta de discordância.
Mais tarde, em outra declaração, ele disse que se submeteria a qualquer decisão que tomassem: “Estou disposto a me submeter a qualquer processo de votação que meu partido decidir. A honra e a transparência do presidente Álvaro Uribe Vélez me dão total confiança”, afirmou.
Uribe Londoño enfatizou que não fomentará divisões internas e que seu objetivo é "unir primeiro o Centro Democrático, depois a oposição e, por fim, todo o país". Ele também afirmou que respeitará o mecanismo definido pelo partido para a escolha de seu candidato à presidência.

O que acontecerá com Juliana Guerrero? Foto:
JUAN SEBASTIAN LOMBO DELGADO
eltiempo


