Da trégua ao ultimato: Aliados exigem que Sánchez mude de rumo

A tão aguardada presença de Pedro Sánchez no Congresso após a eclosão do caso Cerdán acontece nesta quarta-feira. E ele o faz com o governo de coalizão — e, com ele, toda a legislatura — à beira do colapso.
O presidente ficou sem tempo, tendo adiado sua intervenção há três semanas, alegando uma agenda internacional movimentada. Seu objetivo era ganhar tempo e avaliar a extensão dos tentáculos do caso Koldo em sua ramificação mais incômoda: aquela direcionada a Santos Cerdán, seu braço direito no partido.
O bloco de investidura está atento; eles não querem ser arrastados pela crise.Mas se Sánchez ficou sem tempo, seus parceiros executivos estão ficando sem paciência depois de várias semanas exigindo que ele tome medidas e deixe para trás a imobilidade do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que, segundo eles, "permanece em estado de choque".
Sumar apoia essa urgência com um apelo por consenso para chegar a um acordo sobre o pacote de medidas anticorrupção e de regeneração democrática que Sánchez apresentará em sua apresentação. "Ele deve escolher se quer representar todo o governo de coalizão ou apenas o PSOE", insiste a equipe de Yolanda Díaz.
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A reunião de quarta-feira será, portanto, mais do que uma intervenção parlamentar. Dividida em dois blocos — para separar o debate sobre corrupção do plano de rearmamento exigido pela OTAN —, ela marcará um ponto de inflexão. Sumar e o bloco de investidura alertam: ou Sánchez garante a regeneração democrática e uma direção clara, ou a corda pode se romper.
Embora o bloco de investidura ainda esteja resistindo, não é por confiança na regeneração, mas pelo custo altíssimo de abrir caminho para eleições que favoreceriam a direita e os ultranacionalistas, que estão crescendo nas pesquisas. "Isso significaria um declínio social vertiginoso que impactaria na perda de direitos e auxílios aos mais desfavorecidos", afirmam fontes da Sumar.
Yolanda Díaz concedeu trégua ao PSOE para o comitê federal, mas agora exige uma medida firme.Por isso, após a trégua estratégica concedida ao PSOE para resolver as tensões internas na comissão federal no sábado, Yolanda Díaz e seu grupo endureceram sua abordagem, buscando quebrar a paralisia de Sánchez e forçar um "compromisso ambicioso" para relançar a legislatura.
Sumar está confiante de que, nas próximas 48 horas, um pacote sólido de medidas anticorrupção e de progresso social poderá ser concluído com o governo Moncloa. A mensagem foi resumida ontem pelo porta-voz da confederação, Ernest Urtasun: "Resistir não basta; tentar prolongar a legislatura sem fazer nada, de forma agonizante, não será a solução."
Mas Sánchez não precisa apenas convencer Sumar. Na Câmara, ele também enfrentará duras críticas de vários parceiros de investidura, como Podemos e ERC, que também aguardam medidas definitivas contra esses comportamentos, além de um impulso para a agenda social — especialmente na área de habitação — que poderia mudar o ritmo da legislatura e garantir sua duração até 2027.
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Junts e PNV também acompanharão de perto o discurso do primeiro-ministro. O partido de Carles Puigdemont não tem sido o mais crítico ao governo nesta ocasião e condicionou seu apoio contínuo ao cumprimento dos acordos firmados no início do mandato.
Por sua vez, o PNV (Partido Nacionalista Basco) solicitou ao líder socialista "um discurso sincero" e "provas" que permitam definir claramente as implicações do caso Koldo e manter a confiança no governo. Hoje, La Vanguardia publicou uma entrevista com Fernando Clavijo, presidente das Ilhas Canárias, na qual ele solicita um voto de confiança. O partido de Clavijo, Coalición Canaria, está ligado ao PNV por múltiplos laços históricos.
Até o momento, o governo permanece no poder. Mas esta quarta-feira será o dia do acerto de contas. Ou Sánchez consegue reativar o projeto conjunto, ou os parceiros considerarão seriamente abandonar o barco, cada um seguindo sua própria lógica de sobrevivência.
E também... a reforma do RegulamentoO PSOE e seus aliados pretendem aprovar em julho deste ano uma reforma do regulamento do Congresso para sancionar agitadores credenciados pelos chamados meios de comunicação pseudo, que disseminam boatos e notícias falsas e dificultam o trabalho parlamentar da imprensa. A medida responde às reclamações da maioria dos grupos profissionais contra o comportamento inaceitável desses ativistas de extrema direita, que em alguns casos inclui ameaças a jornalistas nas redes sociais. A reforma, apoiada por Sumar, ERC, Junts, Bildu, PNV, BNG e Coalición Canaria, regulará a renovação de credenciamentos, criará um conselho consultivo com poderes para propor sanções e exigirá que os jornalistas respeitem as regras de cortesia parlamentar, sob pena de suspensão temporária ou retirada de suas credenciais. Apenas o PP e o Vox, cujas coletivas de imprensa não estão sujeitas a esses incidentes, se opuseram a elas. As emendas serão votadas amanhã, terça-feira, e o texto final poderá ser aprovado na sessão plenária do dia 22.
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