Avaliação do governo de Gustavo Petro após a cúpula CELAC-União Europeia: os pontos altos e baixos que o encontro deixou para a Colômbia.
O governo do presidente Gustavo Petro fez uma importante declaração diplomática ao apresentar sua avaliação da quarta Cúpula entre a União Europeia e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em Santa Marta. Para o Ministério das Relações Exteriores, reunir 58 das 60 delegações que compõem os blocos — cada uma com realidades e posicionamentos ideológicos diversos — em um momento de grande tensão global, e conseguir emitir uma declaração conjunta às margens do Mar do Caribe, onde os Estados Unidos conduzem uma controversa operação militar contra o narcotráfico, representa um sucesso por si só.

Foto oficial. Foto: Ministério das Relações Exteriores da Colômbia.
"Esta cúpula foi um sucesso porque conseguimos lidar com nossas divergências sem pudor. Fomos capazes de chegar a acordos e expressar nossas discordâncias de maneira civilizada", disse o vice-ministro Mauricio Jaramillo Jassir sobre o documento, que inclui 52 pontos sobre uma ampla gama de temas, como migração, comércio, direito internacional e paz.
Ao longo da semana anterior, a Colômbia, em sua função de presidente pro tempore da CELAC, liderou as negociações para a declaração . O governo aproveitou a oportunidade para promover diversas de suas prioridades de política externa, buscando uma voz unificada sobre questões atuais, como as campanhas de bombardeio de Washington no Caribe e no Pacífico e a escalada da violência na Cisjordânia.

Desdobramento militar dos EUA no Caribe. Foto: Internacional
No entanto, vários países da região — incluindo Argentina, Costa Rica, El Salvador e Equador — distanciaram-se desses pontos. A Venezuela, por sua vez, retirou-se de uma declaração que incluía garantias de eleições livres, uma ideia que o próprio Gustavo Petro propôs como solução para a crise do país vizinho.
Os principais pontos de consenso giraram em torno da defesa do multilateralismo e da necessidade de reformar o sistema das Nações Unidas como um todo, uma proposta que este governo apoia desde o início do seu mandato. Também foi discutida a ideia de promover um latino-americano para suceder António Guterres nas Nações Unidas.
No entanto, em meio a toda essa aglomeração de tópicos, o Governo endossou o parágrafo que rejeita a guerra na Ucrânia, uma questão que, ao longo desta administração, foi amplamente ignorada.

O presidente Gustavo Petro durante a Cúpula CELAC-UE. Foto: Ministério das Relações Exteriores da Colômbia.
Segundo alguns especialistas, embora o governo — e em particular o presidente Gustavo Petro — tenha conseguido cercar-se de aliados multilaterais em meio à crise com Donald Trump, a abrangência da declaração, ao abordar tantas questões em vez de acrescentar novas, pode reduzir sua eficácia e diluir uma mensagem clara.
“Esta é uma declaração piñata. Inclui todo tipo de coisa, cada um tem seu lugar, e se refere a algum interesse específico. Uma declaração de 52 pontos é diluída”, disse o ex-ministro das Relações Exteriores, Julio Londoño Paredes.

Julio Londoño Paredes, ex-ministro das Relações Exteriores da Colômbia. Foto: EFE
“Isso demonstra que a capacidade do governo colombiano de articular interesses é reduzida, mesmo quando se trata de questões quase existenciais”, afirmou Eduardo Velosa, diretor do Programa de Mestrado em Estudos Internacionais da Universidade Javeriana.
Outra crítica dirigida ao governo diz respeito ao nível de representação alcançado durante a cúpula. Comparada à última cúpula, realizada em Bruxelas em 2023, que contou com a presença de mais de 30 chefes de Estado de ambos os blocos, a representação da Colômbia como anfitriã foi menor: ao final, apenas 9 chefes de Estado compareceram.
“Além dos problemas de agenda citados pelo governo colombiano, a taxa é muito baixa, o que demonstra o nível de participação que a Cúpula teve no contexto atual”, disse o analista Velosa.

Luiz Inácio Lula da Silva chega à cúpula CELAC-UE. Foto: Ministério das Relações Exteriores da Colômbia
Entre os convidados de alto nível presentes estavam o Presidente do Conselho Europeu, António Costa; o Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; a Primeira-Ministra de Barbados, Mia Amor Mottley; o Primeiro-Ministro de Portugal, Luís Montenegro; o Primeiro-Ministro e Ministro das Finanças, Investimento, Transformação Econômica, Aviação Civil e Governo Eletrônico de Belize, John Briceno; o Primeiro-Ministro da Finlândia, Petteri Orpo; e o Presidente da Espanha, Pedro Sánchez.
Cancelamentos como os da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do chanceler alemão, Friedrich Merz, tiveram grande impacto na preparação para a cúpula. Durante o evento, a ausência do presidente uruguaio, Yamandú Orsi, foi particularmente notável, visto que seu país assumirá a presidência pro tempore da CELAC.
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