As empresas de gás do esquema Montoro economizaram 10,5 milhões em cinco anos.

A Agência Tributária estima que as cinco empresas de gás investigadas no esquema de Cristóbal Montoro teriam economizado 10,5 milhões de euros em cinco anos graças à reforma do Imposto sobre Atividades Econômicas (IAE), aprovada pelo Ministério da Fazenda a pedido da Equipo Económico, a consultoria fundada pelo próprio ex-ministro.
É o que afirma um relatório sobre o caso iniciado pelo chefe do tribunal de instrução número 2 de Tarragona, ao qual La Vanguardia teve acesso, no qual aparecem como investigados o ex-ministro Montoro e outros oito membros do ministério durante o governo de Mariano Rajoy, os sócios da Equipe Econômica e os principais executivos de cinco empresas de gás, bem como a Associação de Fabricantes de Gases Industriais e Medicinais (AFGIM).
O inspetor da AEAT que redigiu o texto, em apoio à Promotoria de Combate à Corrupção, baseou-se em um documento interno encontrado em uma das empresas investigadas, que estimava ter economizado € 438.000 anuais após persuadir a equipe de Montoro a reformar o IAE (Imposto de Renda Econômico e Social) em 2018.
Leia tambémAs cinco empresas de gás — Air Liquide, Abelló, Messer, Praxair e Sociedad Española de Carburos Metálicos — teriam obtido um lucro de € 2,1 milhões por ano, o equivalente a € 10,5 milhões em cinco anos. Esse dinheiro não foi arrecadado para os cofres públicos, resultando em uma "economia considerável nas taxas do IAE (Imposto Econômico)".
O juiz manteve a investigação em segredo por oito anos em meio a suspeitas de uma conspiração dentro do Ministério da Fazenda, quando este era chefiado por Cristóbal Montoro, para aprovar reformas sob medida em troca de pagamento à empresa que ele fundou e da qual saiu legalmente em 2008, Montoro y Asociados, que depois ficou conhecida como Equipo Económico (EE).
A receita não arrecadada deveria ir para comunidades autônomas e municípios.Segundo o relatório, "na elaboração do projeto investigado, seriam observadas a suposta existência de decisões, omissões de informações/controles, possíveis contradições, a transferência para interesses privados de decisões e poderes que seriam materialmente exercidos pelos beneficiários da reforma, a falta de transparência... em detrimento do erário das entidades territoriais".
O caso afirma que as empresas de gás vêm buscando modificações há anos para obter benefícios fiscais e obtiveram sucesso em duas ocasiões, após o pagamento de EE. A primeira foi com o benefício tributário de energia elétrica em 2014, quando apresentaram seu setor como beneficiário da isenção tributária. A segunda foi com a isenção tributária do IAE em 2018. "Os benefícios fiscais em investigação parecem não ter sido adotados se não houvesse um fator externo decisivo e não relacionado a critérios técnicos", como a contratação de EE pelas empresas afetadas.
A receita perdida destinava-se às comunidades autônomas e municípios. Consequentemente, a Secretaria-Geral de Finanças Regionais e Locais apresentou uma emenda solicitando compensação pela perda de receita.
Isso contradiz os pareceres apresentados para a aprovação da reforma, que afirmavam que a mudança legal não teria impacto na arrecadação, negando, assim, a possibilidade de os municípios acionarem mecanismos para compensar a perda de receita. Portanto, a Receita Federal sustenta, nos pareceres apresentados ao juiz, que a reforma gerou insegurança jurídica. Alerta ainda que os textos aprovados são "idênticos" aos apresentados pelo Ministério da Fazenda.
Os textos aprovados para a reforma tributária eram “idênticos” aos da Equipe EconômicaO inspetor responsável pela investigação acredita que as empresas de gás pagaram à EE após o sucesso da reforma, "sem encontrar qualquer estudo, parecer ou trabalho técnico que demonstrasse a existência de valor agregado associado ao desempenho pago pela EE". Em sua opinião, o trabalho delas parece "limitar-se a contatos limitados com os órgãos do Ministério da Fazenda responsáveis por estabelecer o benefício fiscal investigado no texto da minuta".
Assim como os Mossos d'Esquadra, a AEAT conclui que as reformas legais sob investigação foram obtidas por meio de pagamentos aos Estados Unidos. "Tais pagamentos teriam sido feitos com o objetivo de negociar e influenciar o Ministério das Finanças a obter reformas legislativas favoráveis", observa.
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