A Europa de Leão XIV

Os sinos da Catedral de Barcelona soaram anunciando o novo Papa, enquanto as portas do Saló de Cent se abriram para receber a apresentação do livro Europa. Última Chance (Espasa) do ex-primeiro-ministro italiano e presidente do Instituto Jacques Delors, Enrico Letta .
O livro relata a trajetória física e intelectual de Letta, que elaborou suas propostas para revitalizar a economia europeia por meio de conversas com diversos stakeholders, como destacou o prefeito Jaume Collboni na abertura do evento, que começou com a esperança de que Leão XIV promovesse o diálogo. “O mundo precisa de uma liderança construtiva”, disse ele.
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Letta também abordou as notícias do dia. "Este conclave é muito importante porque tem mais cardeais não europeus do que europeus; essa é a mudança positiva, a ideia de que a Igreja é universal", enfatizou. Ele acrescentou que gosta do nome do novo Pontífice, já que "Leão XIII foi um grande Papa no início da modernidade", e que ter sido escolhido no quarto escrutínio é um sinal da unidade da Igreja", sublinhou.
Houve referências ao novo Pontífice, mas foram apenas uma observação lateral, já que o evento se concentrou na Europa, que busca lançar sua própria fumaça branca, com maior unidade e autonomia.
Enrico Letta, no Saló de Cent
Xavi JurioEssa é a proposta central de Letta: promover a integração europeia. Isso também foi enfatizado por Josep Antoni Duran Lleida, que compartilha uma amizade próxima com o autor, que vai além dos laços democrata-cristãos. Ele afirmou que as receitas de Letta estão ganhando relevância após a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Nesse sentido, ele disse que é necessário, assim como Letta, atualizar a tese de Delors sobre o mercado único, já que o mundo mudou muito. "Mas o que Enrico está propondo não é uma mudança radical, mas sim uma mudança radical", disse ele.
Entre os presentes estavam os ministros Jaume Duch (União Europeia e Relações Exteriores), que encerrou o evento, e Ramon Espadaler (Justiça), bem como o ex-prefeito Narcís Serra e os presidentes do Banco Santander, Josep Oliu, e do Círculo de Economia, Jaume Guardiola.
A jornalista Marta García Aller, que liderou o debate com o ex-primeiro-ministro italiano, enfatizou que o livro é divertido e cheio de anedotas. "Ele abrange 27 países, mais de 400 entrevistas e reflexões íntimas e, como jornalista, aprecio o acesso a essa maneira de fazer política", disse ela.
"O livro é sobre ideias, fruto de um debate coletivo", disse o autor, que defendeu a ideia da Europa "como um projeto em construção", que "precisa de independência tecnológica, financeira e energética", citando os apagões na Espanha e em Portugal para ilustrar a vulnerabilidade.
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Para encerrar, Jaume Duch estava otimista. "Parece que a Europa quer tomar a iniciativa e fazer as coisas em conjunto, mas precisamos de mapas e vontade política. Temos os mapas, o relatório Letta é um deles, e em breve veremos se há vontade", frisou.
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