Em Tadó (Chocó), uma das áreas mais chuvosas do planeta, uma escola comemora o acesso à água potável.

Em Tadó, Chocó, uma comunidade atravessada por rios e chuvas constantes, o acesso à água potável não é fácil. Paradoxalmente, em um dos municípios mais chuvosos do mundo — com uma precipitação média anual de 7.484 mm, segundo a revista Bioetnia —, beber água é um luxo.
Hoje, isso mudou radicalmente para mais de 400 alunos da Instituição Normal de Ensino Superior Demetrio Salazar, graças à inauguração de uma estação de tratamento de água que promete transformar sua qualidade de vida a partir do ponto de vista mais básico: um copo de água seguro.
A estação começou a operar em abril de 2025 e, até junho daquele ano, já havia produzido mais de 2 milhões de litros de água potável, beneficiando não só os alunos, mas toda a comunidade do entorno, cerca de 4.000 pessoas no total.
O processo de purificação da água começa com a coleta da água da chuva, que então é processada por meio de filtros ( areia, cascalho, carvão ativado) para torná-la adequada para consumo humano.
O fato de esta comunidade beneficiária poder beber água com segurança é resultado de um esforço colaborativo entre a Coca-Cola, a Fundação Coca-Cola, a Fundação Aliarse da Costa Rica e a Fundação Solidariedade pela Colômbia.

A comunidade e representantes das empresas da aliança participaram da inauguração. Foto: Cortesia da Coca-Cola.
"Não é apenas mais um projeto", disse Eudecelina Ramírez, diretora da instituição, emocionada. "É um exemplo claro de que podemos realmente considerar o bem-estar da comunidade educacional e da comunidade como um todo. Esta usina não só melhora nossa qualidade de vida, como também nos ensina a cuidar da água, do meio ambiente e a valorizar a nós mesmos e o que temos."
Uma história de transformação Ter água limpa em uma região como Tadó, onde 93% das instituições de ensino do departamento não têm esse serviço , representa mais do que um benefício para a saúde: é uma revolução cotidiana.
Durante décadas, os estudantes carregavam garrafas de água fervida de casa ou simplesmente corriam o risco de consumir água da chuva não tratada, o que frequentemente causava doenças gastrointestinais.
É assim que as professoras aposentadas Esmirna Mosquera e Omni Valois Gómez, que trabalharam a vida inteira na Escola Normal, se lembram: “As crianças aqui ficavam doentes sem saber por quê. Agora, com esta planta, isso muda. Isso é vida”, disseram emocionadas, reconhecendo que nunca imaginaram que veriam esse dia. “Nós, que vivemos entre dois rios e chove todos os dias, estávamos como mortos. Hoje ressuscitamos para a vida.”
O impacto se reflete em pequenos gestos. Durante a inauguração, abrir uma torneira e beber água diretamente tornou-se um ato quase cerimonial.
Para Etty Cecilia Parra, formada pela instituição e gerente de projetos da Fundação para o Desenvolvimento do Chocó, aquele momento foi profundamente simbólico: “Poder abrir a torneira e beber água potável parece simples, mas é um ato transformador. É saúde, é dignidade, é uma mudança de mentalidade.”
A usina não é apenas uma instalação técnica; tornou-se uma ferramenta de ensino e um símbolo de esperança. "Treinamos professores aqui", explicou Parra. "E esses professores viajam por todo o país. Imagine a mensagem que eles estão transmitindo agora: que é possível ter acesso a água limpa nas áreas rurais, que isso deveria ser a norma."
Durante a cerimônia de abertura, o representante estudantil assumiu firmemente o microfone para liderar um compromisso coletivo: "Nos comprometemos a fazer bom uso de nossa equipe, a respeitá-la e valorizá-la como ela merece. Porque isso também faz parte do nosso amor pela nossa instituição."
A estação de tratamento de água é administrada pela comunidade escolar, o que promove um senso de pertencimento e sustentabilidade a longo prazo. A iniciativa também contou com sessões educativas sobre o valor da água e sua conservação. "Não se trata apenas de trazer um filtro gigante; trata-se de transformar hábitos e fortalecer capacidades", enfatizou María Carolina Hoyos, diretora da Fundação Solidariedade pela Colômbia.
Uma dívida histórica Tadó, município com população projetada de pouco mais de 20 mil habitantes até 2025, segundo o DANE (Departamento Administrativo Nacional de Estatística), historicamente tem sido negligenciado pelas políticas de saneamento básico.
As consequências dessa exclusão têm sido devastadoras: doenças diarreicas, desnutrição infantil, baixo desempenho acadêmico e altos custos de saúde para famílias de baixa renda.

A foto mostra parte do sistema de tratamento de água. Foto: Cortesia da Coca-Cola.
Com esta planta, um ciclo é quebrado. "As pessoas mudam seus hábitos de hidratação. Elas não precisam mais gastar dinheiro com água engarrafada, fervê-la ou se preocupar em ficar doentes. A água está lá, gratuita e disponível", disse Parra, destacando também os benefícios ambientais da redução do uso de plástico.
Da mesma forma, a chegada da estação de tratamento de água também representa um ato simbólico de reparação para gerações que cresceram sem o básico. Durante anos, as crianças da escola tiveram que se adaptar a ambientes escolares sem água potável, o que limitava até mesmo práticas básicas, como lavar as mãos ou se manter hidratado ao longo do dia.
O fato de existir hoje uma infraestrutura decente dentro de uma instituição de formação de professores significa reconhecer, ainda que tardiamente, que uma educação de qualidade também se baseia no acesso a serviços essenciais.
De fato, pessoas da comunidade educacional e do município disseram ao EL TIEMPO que esta é a primeira vez que sentem que seu bem-estar realmente importa.
O que vem a seguir: replicando o modelo Embora esta usina represente um ponto de virada, ainda existem áreas em Tadó e Chocó sem acesso a água potável. "Agora, o desafio é expandir o modelo para outros bairros", disse um dos professores aposentados. No entanto, este primeiro passo iluminou o caminho.
Como disse Juan Pablo Corredor, da Coca-Cola Colômbia: "Esta planta não só melhora a qualidade de vida de milhares de pessoas, como também contribui para a segurança hídrica em uma região que enfrenta desafios significativos".
Hoje, nesta área beneficiada pelo Tadó, abrir uma torneira e beber água não é mais um sonho, mas um direito que começa a ser concretizado. E cada criança que pode beber água nesta escola confirma isso: a mudança chegou, gota a gota, e veio para ficar.

De abril a junho, a estação tratou mais de 2 milhões de litros de água. Foto: Cortesia da Coca-Cola.
ANGELA MARÍA PÁEZ RODRÍGUEZ - ESCOLA DE JORNALISMO MULTIMÍDIA EL TIEMPO.
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