'Não consigo ligar para a minha família': como a Espanha foi paralisada por um apagão


Clientes em pânico correram para sacar dinheiro dos bancos e as ruas ficaram lotadas de pessoas tentando em vão obter sinal, enquanto uma queda de energia em toda a Espanha mergulhava o país no caos na segunda-feira.
Carlos Condori, uma das milhões de pessoas afetadas na Espanha e em Portugal, estava viajando no metrô de Madri quando o apagão interrompeu sua viagem.
"A luz se apagou e o vagão parou", mas o trem conseguiu rastejar até a plataforma, disse à AFP o trabalhador da construção civil de 19 anos, do lado de fora de uma estação de metrô no centro de Madri.
"As pessoas ficaram chocadas, porque isso nunca tinha acontecido na Espanha", acrescentou. "Não há cobertura (telefônica), não consigo ligar para minha família, meus pais, nada: não consigo nem ir trabalhar."
Na Praça Cibeles, uma das vias mais movimentadas da capital espanhola, o apagão dos semáforos desencadeou uma cacofonia de sirenes, apitos e buzinas enquanto a polícia tentava controlar o congestionamento.
Trabalhadores de escritório perplexos se aglomeravam nas ruas com seus computadores inutilizados pela falta de internet, enquanto moradores estavam gratos por não terem ficado presos em elevadores.
Desorientada, Marina Sierra tentava entrar em contato com o pai e improvisar um caminho para casa, nos subúrbios de Madri, depois que sua escola foi fechada. "O prédio em que estávamos estava soltando fumaça, eles tiveram que nos evacuar rapidamente... Estou chocada porque tudo está totalmente fora de controle", disse a estudante de 16 anos.
'Não é o fim do mundo'
O caos no transporte também tomou conta de Barcelona, a segunda maior cidade da Espanha, onde moradores e turistas lotaram as ruas em uma tentativa desesperada de descobrir o que havia acontecido.
A estudante Laia Montserrat, que mora a uma hora de Barcelona, estava no meio de uma apresentação quando o apagão atingiu sua escola e a deixou em apuros.
"Como a internet não estava voltando, nos mandaram para casa... (mas) também não havia trens", disse Laia à AFP. "Agora não sabemos o que fazer."
Leonor Abecasis, que visitava o ponto turístico vindo de Portugal, estava em uma loja quando foi tomada pela escuridão. "Estamos esperando a eletricidade voltar", disse a consultora de 27 anos. Ela admitiu estar "um pouco" preocupada com o voo de volta para Lisboa no final do dia.
De volta a Madri, a filosófica Pilar López tentou colocar em perspectiva a confusão e o pânico de seus colegas que estavam preocupados com os alimentos perecíveis que haviam deixado em seus freezers.
"Já sofremos uma pandemia, não acho que isso seja pior", disse o administrador de 53 anos no ensino superior. "É como qualquer coisa, você se acostuma e começa a achar que isso não é o fim do mundo."
Para López, o caos generalizado proporcionou uma lição útil: "Talvez devêssemos voltar ao início e não depender tanto da eletricidade para algumas coisas".
Ela acrescentou: "Não consigo nem pagar porque meu celular não está funcionando. Às vezes é preciso ser um pouco mais analógico: isso é uma prova disso."
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