Outro resgate inútil da Pemex

Nos últimos anos, a Pemex tem visto um declínio no número de poços de petróleo em operação. A produção de petróleo bruto (incluindo condensados) caiu de 1,9 para 1,6 milhão de barris por dia (mdbd) em apenas dois anos, apesar de ser praticamente a única atividade lucrativa do monopólio do petróleo. Enquanto isso, a produção de produtos refinados (petróleo) nas refinarias, incluindo gasolina, diesel, querosene de aviação, gás LP e óleo combustível, aumentou em dois anos de 838.000 barris por dia (bd) para 935.000 bd. O problema é que quanto mais a Pemex refina, mais ela perde. Quase um quarto do que é produzido nas refinarias é óleo combustível, um produto altamente poluente que ninguém quer. Para se livrar do óleo combustível, a Pemex o mistura com petróleo bruto leve de alta qualidade — adulterando-o — para exportação para os Estados Unidos, o que reduz o preço de venda e reduz as receitas de exportação. A produção de gás natural caiu em dois anos de 4,1 para 3,5 bilhões de pés cúbicos por dia. Estima-se que mais de 25% do gás produzido seja desperdiçado, queimado ou liberado na atmosfera, tornando-se um potente gás de efeito estufa. As emissões de CO2e da Pemex aumentaram em apenas 24 meses, de 30 para 32 milhões de toneladas (dados trimestrais) no mesmo período. A Pemex é responsável por 15% das emissões totais de CO2e do México. O patrimônio líquido da Pemex é negativo, tendo caído de (-)1,6 trilhão de pesos para (-)2 trilhões de pesos em três anos, representando quase 6% do PIB. O monopólio do petróleo está escandalosamente falido. É a empresa petrolífera mais endividada do mundo: sua dívida financeira é de aproximadamente US$ 100 bilhões e sua dívida com fornecedores é de US$ 500 bilhões de pesos. Não se sabe como ela pagará essas dívidas.
Nesse contexto, outro programa de resgate da Pemex foi apresentado há alguns dias. Ele inclui um veículo de financiamento com garantia federal de US$ 12 bilhões, transferidos para a Pemex como títulos do Tesouro dos EUA para cobrir dívidas de curto prazo. O governo continuará fornecendo capital à Pemex (dizem eles) por apenas mais dois anos. Eles presumem que, em 2027, a Pemex será capaz de pagar sua dívida sozinha, graças a novos projetos supostamente com participação privada. É uma forma angustiante de reconhecer que, sem a participação privada, a Pemex está perdida e que foi um capricho delirante abortar a reforma energética "neoliberal" de 2013. Um fundo de 250 bilhões de pesos é proposto para investir em exploração e produção: metade de bancos de desenvolvimento e a outra metade do setor privado. Não está claro como as empresas privadas investirão nisso (como sócias minoritárias) sem licitações de petróleo ("neoliberais") ou rodadas de negociações e sem qualquer segurança jurídica, especialmente após a destruição do judiciário. O banco de desenvolvimento (Banobras), em vez de financiar infraestrutura e serviços públicos, agora vai esbanjar dinheiro com a Pemex. As valiosas reservas de hidrocarbonetos do México são não convencionais (encontradas em xisto e águas ultraprofundas). Isso contradiz a doutrina do governo de proibir o fracking e permitir o investimento privado total (majoritário) em novos campos. O programa anunciado não é claro sobre como financiar a reabilitação de refinarias e plantas petroquímicas, ou como reduzir a queima de gás na atmosfera. Tampouco está claro como financiará as idílicas aspirações de cogeração e exploração de lítio.
O pior é que tudo isso se revela irrelevante, dada a doença terminal da Pemex no setor de transformação industrial (refino e petroquímica). As refinarias da Pemex processam petróleo bruto muito pesado (é isso que é), com muito asfalteno, metais e enxofre. A Pemex perde em média US$ 40 por barril de petróleo bruto refinado, que, no total, absorve os lucros da venda de petróleo bruto e gera prejuízos astronômicos. Como menos petróleo é produzido e exportado, e mais é refinado, a Pemex perde mais dinheiro. Mas essa é a ideologia do 4T. Devemos nos lembrar da ideia falaciosa do líder máximo do 4T de que é "melhor" vender suco de laranja (produtos refinados) do que laranjas (petróleo). O problema é que quanto mais "suco de laranja" (produtos refinados) a Pemex produz, mais dinheiro ela perde (585 bilhões de pesos em 2024). A soberania energética continua sendo uma mera invenção da imaginação. Em termos de gás, praticamente não temos capacidade de armazenamento, nem operacional nem estratégica. Se Trump fechar a válvula, ou se houver um acidente ou sabotagem, o país fica imediatamente paralisado. Noventa por cento do gás utilizado pela CFE e pela indústria é importado e produzido por fracking nos Estados Unidos. Setenta por cento da eletricidade é gerada com gás. A proibição do fracking no México será suspensa? Em resumo: o nó górdio são os passivos de refino. Uma empresa racional os daria baixa, vendendo-os ou liquidando-os. É a única maneira de estancar a hemorragia. O novo "resgate" escapa. Más notícias para a Pemex, para o Tesouro e para o México.
Eleconomista