Cidade tranquila

"Auschwitz, Cidade Silenciosa" é um livro de contos e dois poemas publicado pela Altamarea. Uma compilação de textos escritos ao longo de trinta e cinco anos por Primo Levi , um sobrevivente dos campos de concentração nazistas , judeu, é claro, e um de seus expoentes mais clarividentes, sem menosprezar outros que sofreram os rigores extremos de uma sobrevivência perpétua gravada em sua memória e alma com mais força e dor do que um estilete em chamas.

A obra é composta por contos fantásticos, em menor grau, e autobiográficos, ambientados em um espaço e tempo onde não há linhas divisórias entre gêneros, já que tudo corresponde ao inferno . O que Levi faz neste livro é se perguntar, assim como os demais prisioneiros objetificados, o motivo de sua internação, já que ninguém entendeu, nem ninguém entende, o motivo de tamanha atrocidade, para além da pura personificação do mal que representava a era que nega tudo o que significa ser humano.

Nas histórias, repetem-se, constante e inevitavelmente, a humilhação, o desespero e a fome atroz dos internos que pecaram por terem nascido judeus, sim, como os abaixo assinados, judeus perseguidos ao longo da história por suas crenças, judeus aniquilados pelo fato de serem diferentes sem serem o chamado povo eleito que foi, para os nazistas , o povo alemão, os algozes voluntários de Hitler.

É curioso que, na primeira história, o personagem de Vidal seja uma cópia exata de outro que aparece em " Se Isto É um Homem ". O prisioneiro é baixo, muito forte e estúpido, alguém destinado a viver. Mas, apesar de sua capacidade de superar o fogo, ele morre, como a grande maioria dos judeus presos no universo dos campos de concentração. Quase ninguém é capaz de suportar o sistema mais repressivo e industrializado concebido pelos arautos do mal.

Deter-se em cada história e em cada um dos dois poemas representa um vislumbre de diversas questões que frequentemente permanecem sem resposta. É aí que reside o poderoso fundamento do mal. Não importa quão bem alguém formule e domine a arte de questionar , frequentemente encontrará respostas falsas, construídas em uma eterna sessão de tortura.